É muito difícil mudar hábitos. Já abandonar vícios é quase impossível.
Perto, porém, da consciência de por que mudar, de por que abandonar, a mudança e o abandono são ridiculamente fáceis…
Essa consciência, geralmente, só chega com muito sofrimento. Não é à toa que Jesus vai para a cruz, Paulo fica cego na queda do cavalo, Francisco também fica cego em razão de um tratamento rústico do tracoma, Buda se transforma em mendigo, Krishnamurti abre mão de ser o líder de um movimento religioso. Seja físico, seja moral, o sofrimento sempre está presente na senda daqueles que buscam a Luz. Por que será que é assim?
Se você ganhasse sozinho na mega-sena, hoje, será que iria se preocupar com busca espiritual? Uma mulher extremamente linda, maravilhosamente sedutora, que traz sob a coleira de seu charme os homens que quiser, essa mulher se preocupará com o sentido da vida? Se eu conseguisse me transformar no Imperador do Brasil, com as forças armadas do meu lado, com o povo gritando meu nome em homenagem febril, será que eu iria procurar o caminho que leva ao Divino?
A resposta é rápida e certeira: não. Quando estamos com muito dinheiro, muita saúde, quando temos um enorme poder, quando o prazer nos rodeia e envolve, quando nos sentimos fortes, monumentalmente fortes, não procuramos nenhum deus. Afinal de contas, para que procurar deus, se, nessas ocasiões, nós nos sentimos verdadeiramente Deus?
A mudança de hábitos, como a que é necessária para o emagrecimento, bem como o abandono de vícios, como o parar de fumar, podem trazer muita saúde. Podem, até mesmo, representar a diferença entre viver e morrer. Se, porém, quem muda não sabe por que muda, nada fez. Repito: quem simplesmente para de beber; quem simplesmente emagrece; quem simplesmente para de fumar; quem muda seus hábitos, quem abandona vícios, mas não tem a consciência do que o motivou a isso, só para de beber, de comer demais, de fumar. Fora isso, continua a ser aquele mesmo eguinho metido a besta que sempre foi, achando-se muita coisa, ou fingindo que não se acha tanto assim.
Quem sabe por que mudar, quem sabe que esta realidade não é tudo o que existe, quem sabe que existe um Eu verdadeiro, o qual não tem nada a ver com nosso eguinho metido a egão, esse alguém está começando a caminhar. Esse alguém vai não apenas saber, mas realmente sentir que o seu verdadeiro Eu não precisa ficar bêbado, não precisa fumar, não precisa comer feito um glutão.
Essa é toda a diferença: sentir o verdadeiro Eu.
Mas sem sofrimento, nós não conseguimos…
Só existe uma alternativa ao caminho do sofrimento: trata-se do caminho da Compaixão. Não falo de uma compaixãozinha, mas de um florescer de Amor que transborda gratuitamente em todas as direções, sem distinções, sem condições. É…parece que o sofrimento ainda é mais fácil…
Se as mudanças podem representar a diferença entre viver e morrer, a consciência do verdadeiro Eu é o que separa as vidinhas da imortalidade.
O mundo é povoado por vidinhas. Muito raramente, um cometa de consciência cruza o planeta.
Como eu queria não ser só uma vidinha…
P.S.: Como ainda sou só uma vidinha, quero convidar você para ler (se for publicado, é claro) um artigo extra que vou enviar para o Imprensa Livre nos próximos dias. Nele tratarei do absurdo que o Banco do Brasil de São Sebastião (antiga Nossa Caixa) fez comigo. Até lá! (É…só sofrendo, mesmo…)
Publicado originalmente no “imprensa Livre”, em março de 2011.