No início deste ano, em 34 dias, passei pela morte física de minha Mãe e quase pela minha própria, diante de problemas de pressão e diabetes. “Estimulado” por esses fatos e prosseguindo num caminho que já vinha trilhando, mudei muito em sete meses: emagreci 30 quilos, parei de beber,passei a caminhar todo dia, sendo que meus índices de saúde atingiram a normalidade. Muitos me perguntam como consegui isso. Sem nenhum traço de vaidade, deixando claro que os pontos abaixo não são meus, mas baseados em vários mestres, e apenas com o objetivo de poder ajudar pelo menos uma pessoa que seja, faço um resumo do que considero um dos caminhos para mudar: o meu caminho.
Existem pré-requisitos:
1 – sentir que existe algo além da realidade material, algo eterno, impregnado em toda a Vida, como se fosse uma correnteza que tem o Amor como leito, e que deságua na própria nascente. Chamo isso de Deus.
2 – sentir que vivemos dois em um. De um lado, de natureza transitória, fugaz, o que pensamos que representa o nosso “eu”: nossa posição social, econômica, intelectual, nossa saúde, nossa família, nossa liberdade, nosso passado, nosso futuro, etc. De outro, o nosso “Eu” eterno, imortal, que, por mais que tenhamos nos esquecido disto, só tem um desejo: reintegrar-se em Deus. O primeiro se chama ego; o segundo, Eu, Alma,Espírito.
Se você (ainda?) não sente que possui esses dois pré-requisitos, este texto provavelmente de nada lhe servirá…
Tentando resumir meu caminho numa síntese fadada à simplificação incompleta, sinto que:
1 – Beber, comer, consumir ou manter relações sexuais em excesso, fumar, jogar, ter inveja, preguiça, cólera, ressentimento e muitos outros comportamentos nocivos se resumem a uma atuação do ego querendo tomar o lugar do Eu. Tudo se resume no egoísmo e no orgulho, e estes são meras expressões da vaidade. Quem fuma não é minha boca, meu pulmão, não são meus dedos, meus olhos. Quem fuma é o meu ego, com o fim de criar a impressão de que ele é meu Eu. E meu ego não está exatamente fumando, mas sim alimentando a vaidade. Seja com fumaça, sexo, prepotência, álcool, etc, tudo se resume à alimentação da vaidade.
2 – Só existe um momento em que posso existir: o agora. Passado e futuro nada mais são do que estratégias do ego para nos fazer crer que ele é eterno. Ele, como já disse, é efêmero. Nesse processo, porém, passamos a lutar para fazer com que nosso ego seja eterno, esquecendo-nos de nosso Eu – este, sim – imortal. Permanecemos, então, ou à beira do túmulo das lembranças – felizes ou culpáveis –do passado; ou num “grid” de largada do qual nunca saímos, imaginando febrilmente ou temendo o futuro.
Para reverter esse quadro, para sair dessa ilusão, dessa “Matrix”, trilho o meu caminho, tendo encontrado uma fórmula para resumi-lo. Empresto a fórmula do Novo Testamento, mas ela está – com outras roupagens – em muitas outras religiões: só a Verdade liberta.
Qual Verdade? A de que estamos ego, mas somos Eu, além do que só podemos ser Eu, agora.
Liberta-nos de quê? Da ilusão de que somos ego, da permanência no passado ou no futuro.
Por exemplo: se fumo, é para alimentar o ego. Se quero parar de fumar pela saúde, pela família, para mostrar que sou forte, nada mais estou fazendo do que continuar a alimentar o ego, embora de outra forma. Poderei até largar o fumo, mas o substituirei por outra droga, seja ela química, como o álcool, seja ela imaterial, como a irritabilidade, o consumismo, a prepotência, o medo, etc. E viverei lamentando os cigarros que fumei no passado e temendo o câncer que poderei ter no futuro.
A única maneira de parar – total, definitivamente, sem substituições – de fumar, portanto, é reconhecendo a Verdade de que sou meu Eu, que este busca Deus, que só há uma ferramenta nessa busca: o Amor. Com Amor, que necessidade temos de tabaco?
E esse Amor precisa ser tão grande, que até o meu velho ego fumante do passado, ou o doente pulmonar ego do futuro, recebam de mim um olhar de ternura.
Isso vale não só para o fumar, mas para todas as formas de exercício da vaidade. E nenhum remédio, nenhum livro, nenhuma terapia pode fazer com que abandonemos vícios. Podem, quando muito, atuar como auxiliares. E também não existe um melhor momento para a ação. Só podemos agir agora.
Estou tentando trilhar esse caminho, em meio a precipícios, falsos desvios, atalhos ilusórios, quedas, recomeços…mas quero caminhar…
Publicado originalmente no “Imprensa Livre”, em outubro de 2008.