“Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.”
(Gibran Khalil Gibran)
Eu sei que deveria estar muito feliz. E eu estou, mas…
Minha filha mais nova foi aprovada numa das melhores universidades do Brasil. Isso deveria ser motivo de orgulho e felicidade. E eu estou orgulhoso e feliz, mas…
Acabou de concluir o ensino médio; foi uma vitória, eu sei, mas…a Universidade não fica no Litoral Norte!!!
A minha filha mais velha já mora fora há três anos. Agora, a mais nova, também?
Parece que foi minutos atrás, mas já faz vários meses que ela me deu a notícia: queria fazer Teatro. Ela sempre demonstrou aptidão inata para o palco. Além disso, confesso que eu sempre sonhei em viver na e da Arte. Por um e por outro motivo, pela realidade dela e pelos meus sonhos, exultei com a notícia.
Parece que faz poucas semanas que ela nasceu, que faz poucos dias que ela entrou na escola (lembro da vez em que eu me atrasei para buscá-la, e ela, criança, chorava à minha espera).
Eu sei que o que Gibran escreveu é sábio, sei que o apego dos pais é egoísta, sei que minha filha precisa viver a sua Vida, sei de tudo isso.
Mesmo assim, eu preciso perguntar:
– Por que ela cresceu?
Eu estou feliz, é claro! Mas por que eu sinto esse engasgo na garganta?
Eu sei que deveria, simplesmente, todo feliz e orgulhoso, desejar boa sorte a ela (e do jeito que se deseja boa sorte no mundo do Teatro).
Eu sei disso, mas preciso perguntar: por que ela cresceu?
Eu juro que nunca mais me atraso…
– Merda!
Publicado originalmente no “Imprensa Livre, em fevereiro de 2009.